Engajamento: um Jogo Ganha-Ganha

Engajamento é um tema que ganha cada vez mais espaço nas discussões sobre pessoas, bem-estar e performance organizacional. Gosto muito desse movimento pois ele mostra que engajamento é uma relação de mão dupla, entre você e organização para a qual trabalha. Em outras palavras: não existe engajamento solitário e ele não depende só dos seus esforços ou dos esforços da organização para a qual trabalha de forma unilateral. Depende das duas partes e só acontece se ambos estiverem trabalhando juntos para esse fim.

Não existe nada mais gratificante no dia a dia do que se sentir engajado. Eu já vivi isso muitas vezes e acredito que você também. Quando você está trabalhando assim, sente que tudo flui naturalmente. Você sabe que pode fazer a diferença para a organização e o trabalho não pesa. Você se sente apaixonado pelo que faz e pela empresa e tem todo o interesse em dar seu melhor. Consequentemente, neste cenário, ambas as partes saem ganhando!

Por outro lado, quando você não está engajado, sua performance é o oposto. Os dias se arrastam, sua performance fica aquém do seu melhor e você sente que trabalha ali por dinheiro.

Vi isso muito de perto algumas vezes e me entristeci ao notar que esse estado é mais comum a medida que se sobe na hierarquia da empresa. Quanto maior o cargo, mais as pessoas perdem a motivação intrínseca com o que fazem e trabalham apenas pelo dinheiro, poder ou status.

As frases que mais escutava eram: “faltam x anos para me aposentar”; “sou como uma prostituta, pagando eu trabalho”. Ruim não? Pois é. É ruim para você e para aqueles que te amam.

Já estudei muito sobre esse assunto e um dos materiais que eu mais gosto é um estudo produzido na Inglaterra, em 2015, de autoria de Chris Burton, Linda Buchan e Roland Tarleton, chamado “Engajamento e Bem-estar: Um Modelo Integrado”. Boa parte do que segue abaixo foi retirado de lá. Caso você queira se aprofundar no assunto, sugiro que leia o artigo na íntegra. Está maravilhoso.

O que é engajamento?

Segundo Saks (2006), engajamento é um estado psicológico e “uma construção distinta e única que consiste em componentes cognitivos, emocionais e comportamentais … associados ao desempenho individual do trabalho”.

Dessa definição, podemos destacar duas facetas:

  1. 1. Engajamento é pessoal e individual. As organizações devem ter em mente que cada pessoa pode se engajar de formas diferentes e com motivos diferentes. Assim, as intervenções devem focar os indivíduos e não áreas ou setores.
  2. 2. Uma pessoa engajada se compromete de forma emocional, cognitiva e comportamental com seu trabalho. Isto é: se compromete em vários níveis.
engajamento 1 Bem-vindo ao time

Bem-vindo ao time (Foto: PeopleImages / iStock)

De forma muito simplificada, o engajamento se inicia de forma ainda inconsciente, no nível psicológico, quando você é exposto a um evento e percebe a chance de um prêmio em função daquilo (mais status, crescimento ou mais controle sobre seu ambiente, por exemplo). Isso gera uma atração seguida de emoções e mentalidade positivas. Há uma motivação intrínseca de seguir adiante e, por fim, de comportamentos de comprometimento e engajamento.

Por outro lado, quando o evento causa uma percepção de perigo (perda de status, declínio, ou perda de controle sobre seu ambiente), a reação é de evitar lidar com aquilo. As emoções e pensamentos que se seguem não negativos, culminando na falta de motivação e uma reação natural de desengajar e resistir.

Aí começam os problemas! Muitas vezes, você está exposto a situações negativas no dia a dia da organização e o que te mantém no prumo – isto é, impede de tentar fugir desses eventos negativos – são motivadores extrínsecos, como dinheiro, status ou poder.

Esses motivadores, porém, diferente dos intrínsecos, não são suficientes para motivá-lo ao longo do tempo. O resultado acumulado é um desengajamento crônico, o que pode te levar a desenvolver doenças crônicas também.

Como é isso na prática

Certa vez, presenciei uma situação que ilustra muito bem este cenário. Uma colega querida de trabalho estava pensando seriamente em deixar a organização onde trabalhava. Ela estava muito infeliz com o que fazia, desengajada e desmotivada.

A empresa também estava passando por um período delicado e perdendo bons profissionais. Para resolver a questão, a organização ofereceu uma carta de retenção para minha amiga. Basicamente, a carta dizia que, se ela permanecesse na função por pelo menos mais um ano, receberia um bônus especial de quatro meses de salário.

Motivada unicamente pelo dinheiro, ela decidiu aceitar a proposta. Porém, ao longo daquele ano, ela foi definhando, perdendo muito da sua saúde, da vontade de trabalhar e entrou em depressão.

Ao final do período, ela recebeu seu bônus, mas ficou pensando se o custo pessoal valeu a pena. No final daquele período, eu praticamente não a reconhecia mais. Ela estava muito distante de ser a profissional brilhante e realizadora de anos anteriores.

Fico pensando se essa foi a melhor opção para a empresa também. Sinceramente, acho que não. Conversar com ela, buscar caminhos para resgatar aquela profissional de outrora teria sido bem mais proveitoso do que, simplesmente, oferecer um cheque. Seria mais difícil, é verdade! Mas, sem dúvida, os resultados seriam muito melhores!

Essa para mim é a lição principal e mais maravilhosa sobre engajamento. É um esforço conjunto. Tanto minha amiga como a empresa falharam em reconhecer isso e,  ao final do período, ela enfim pediu demissão.

engajamento 2 Time engajado com o trabalho

Time engajado com o trabalho (Foto: Vadim_Key / iStock)

Os lótus de engajamento

Você pode se engajar com seis fatores diferentes:

  1. 1. Seu trabalho: esse tem sido o foco primário das pesquisas sobre engajamento.
  2. 2. Seus colegas de trabalho: seu time, seus camaradas, seus colegas de luta no dia-a-dia.
  3. 3. Agentes externos: aqui incluímos clientes, fornecedores, consumidores, parceiros. Todo e qualquer agente externo a sua organização.
  4. 4. Uma causa maior: também conhecido como “significado” ou “propósito”. Aqui se inclui uma mudança única ou um programa de mudanças
  5. 5. Seu superior imediato: seu chefe basicamente.
  6. 6. A Organização como um todo: incluindo liderança sênior, visão, propósito e valores.

Enquanto você pode se beneficiar pelo engajamento com qualquer uma dessas seis coisas, o ideal para a organização é que você esteja engajado de forma uniforme nos seis. Quando isso ocorre, seu rendimento é máximo e seu bem-estar também. Bom, não é?

Essa é a razão pela qual a organização deveria ter total interesse em ajudar a te engajar por completo. Claro que nem sempre isso é possível. Muitas vezes, você estará engajado mais com uma frente do que com a outra, como, por exemplo, com seus colegas mais próximos e seu chefe imediato, justamente para suprir a falta de engajamento com a organização como um todo.

Nesses casos, seus esforços pessoais no dia a dia podem não estar em sintonia com os objetivos estratégicos da organização, gerando problemas para vocês com o passar do tempo.

engajamento 3 Melhores resultados

Melhores resultados (Foto: Alphaspirit /iStock)

Benefícios para organização e pessoas

É aqui que o ganha-ganha – fruto do trabalho conjunto entre você e a organização para aumentar seu engajamento e o dos seus colegas – se paga e muito bem.

O principal benefício para a organização é uma melhor performance, expressa pela retenção de funcionários, aumento de produtividade, menor volume de faltas, melhor relacionamento com os clientes, mais vendas, maior comprometimento das pessoas e maior lucratividade.

Para você, o grande benefício é mais bem-estar, com mais satisfação e motivação com o trabalho, maior senso de propósito, menos estresse, vida mais saudável, menos doenças, melhores relacionamentos familiares e vida mais longa.

Já existe muita evidência que mostra que o engajamento real ocorre somente em um estado psicológico positivo. E isso também é fundamental para o seu bem-estar físico e psicológico. Tanto isso é verdade que, segundo a CIPD, uma organização inglesa para aperfeiçoamento dos Recursos Humanos e do desenvolvimento das pessoas, “engajamento é importante para a performance, mas é improvável que se sustente se não estiver de mãos dadas com bem-estar.” CIPD

Implicações

A principal implicação é que engajamento é um jogo ganha-ganha. Se bem feito, você vai ter uma vida com mais bem-estar. A organização, por sua vez, vai colher melhores resultados e atingir suas metas com mais facilidades.

Em função disso, lembre-se que você, na função de chefe ou subordinado, deve entender que as raízes para o comportamento engajado, ou não, são mais profundas do que se imagina. Elas começam ainda no inconsciente!

Nesse sentido, lembra que engajamento é algo pessoal e que você deve tratar de cada funcionário de forma individual? Pois é! Vale a pena fazer isso pois pessoas engajadas com seu trabalho entram no que chamamos em um estado de flow, onde tudo vai dando certo e trazendo resultados fantásticos para ela e para a organização.

Para garantir isso, procure entender quais eventos podem levar você ou seus subordinados a comportamentos positivos ou negativos. Procure, em conjunto, criar mecanismos para evitar que eles ocorram e, se ocorrerem, o que podem fazer para minimizar os defeitos e evitar que ocorram novamente.

Se trabalharem juntos, de forma honesta e transparente, todos saem ganhando. Sinceramente, acho que vale muito a pena investir nisso e colocar energia exatamente neste ponto. Afinal, o que você tem a perder?

Crédito foto da capa – Homen no trabalho sorrindo (Foto: jacoblund / iStock)

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