Pouca gente se dá o trabalho de pensar sobre qual legado pessoal e profissional gostaria de deixar. Quando o fazem, isso acontece por volta dos 40 ou 50 anos de idade. Nesse momento de vida, você já acumulou muita experiência, muitas conquistas e começa a se preocupar em não deixar isso se perder. É nessa hora que “deixar um legado” começa a, de fato, ganhar relevância.
Uma vez, um CEO de multinacional onde eu trabalhava, já com 53 anos na época, participou de workshop com todos os CEOs dos outros países. Quando retornou, ele se deparou com um questionamento inusitado. Seu chefe lhe perguntou o que ele queria deixar de legado. Ele não tinha uma resposta – na verdade, nunca havia parado para pensar nisso. O chefe, então, pediu para ele refletir por uma hora e escrever num papel o que queria deixar de legado…
Embora isso seja válido – afinal, antes tarde do que nunca -, pensar no legado que queremos deixar deve ser feito o mais cedo possível. Na minha opinião, se você tiver isso claro logo no início da carreira e perseguir este objetivo, certamente, terá grandes benefícios, seja você dono de seu próprio negócio ou funcionário de uma organização. Eis alguns motivos que sustentam esse pensamento.
Criar um legado é a chance de deixar uma marca no mundo e ser lembrado por isso. Algo único, seu, que as pessoas vão conseguir reconhecer e dizer que aquilo existe por sua causa. É sua criação, seu bebê! Algo para você sentir muito orgulho e entender que foi a sua forma de melhorar o mundo ao seu redor.
Escultura (Foto: Samuel Zeller / Unsplash)
É a oportunidade de você continuar influenciando a vida de muita gente, mesmo quando não estiver mais presente no dia-a-dia, seja na organização ou no convívio familiar. São os valores que você plantou e os projetos que colocou de pé. Seu monumento que ficará ali, exposto, para que todos observem e lembrem de você.
Há alguns anos, meu pai resolveu escrever e publicar sua biografia profissional. Levou alguns anos escrevendo o livro, juntamente com minha mãe. Dedicou-se e trabalhou muito para aquilo. Quando chegou a época de publicar, ficou na dúvida. O valor da primeira tiragem era alto e ele não queria lançar um livro para vendê-los aos amigos. Não havia escrito para ganhar dinheiro.
Perguntei então o porquê de ter se dedicado tanto ao livro. Ele respondeu que queria deixar aquilo como legado, tanto para os netos como para futuros militares, aqueles que estavam iniciando a carreira e que poderiam ver, na história dele, uma inspiração. Sugeri então que ele pagasse pela tiragem inicial e doasse os livros. Foi o que fez!
Durante meses, entregou pessoalmente um livro para cada uma das pessoas que haviam marcado sua carreira e para todas as unidades de ensino da Força Aérea. Sem dúvida, foi um momento muito especial e de grande realização para ele.
É muito gratificante você trabalhar no dia-a-dia sentindo que está construindo algo especial, algo do qual sente muito orgulho, que irá sobreviver a você e ficará para os seus sucessores. Esse sentimento é intenso quando começamos a empreender e estamos envolvidos em um negócio próprio, com muita liberdade de criação. Também é muito estimulante quando você trabalha para uma organização e percebe o quanto toca a vida de outras pessoas ou que algo só existe por causa de você.
Pai com filha (Foto: Picsea / Unsplash)
Lembro quando tive meu primeiro filho e a multinacional onde trabalhava inaugurou uma creche para os filhos das funcionárias mulheres. Achei aquilo o máximo e trabalhei para que, se sobrassem vagas, os funcionários homens também pudessem levar seus filhos. A princípio isso foi negado, mas me dediquei, trabalhei e consegui que fosse o beneficio fosse extendido para os homens também.
Durante quase dois anos, pude levar meu filho comigo para o trabalho. Anos depois, ao voltar naquela empresa e entrar no elevador, vi um pai com seu filho no colo. Abri o sorriso e pensei comigo mesmo: “Ele não sabe, nem nunca vai saber, mas só está podendo viver esse momento com seu filho por minha causa”. Ganhei meu dia!
Há um tempo, escrevi um artigo sobre propósito de vida. Na ocasião, abordei como tomar consciência do seu propósito poderia ser uma bússola para orientar suas decisões e ações no dia-a-dia. Construir um legado profissional que esteja intimamente ligado a seu propósito de vida tem exatamente o mesmo efeito. Vai te dar foco, força, resiliência, além de servir de inspiração e estímulo para perseguir o sucesso na sua carreira.
Entende o porquê de ser um desperdício só pensar nisso aos 50 anos? Nessa altura do campeonato, você já conquistou muita coisa, mas perdeu a chance de ter levado uma vida profissional mais estimulante e de melhor qualidade, inspirada pelo seu propósito de vida e pela vontade de construir um legado que pré-definiu. O segredo aqui é ter consciência disso ao longo da vida e deixar que ele guie as suas escolhas profissionais.
Por definição, seu legado não é importante só para você. É também para as pessoas que estão ao seu redor, que lhe influenciam e são influenciadas por você, que acreditam no que você faz e fala, nos seus exemplos de vida, aquelas que você consegue tocar o coração.
Se você trabalha de forma altruísta, generosa e constrói o sucesso com quem está ao seu redor, vai inspirá-las a ter fé em você e no que faz. Essas pessoas tornam-se seus cúmplices e vão levar seu legado a diante, justamente por quererem que seu sucesso continue.
Acredite, pouca gente vai tocar nesse assunto com você ao longo da sua vida profissional, mesmo que sejam profissionais especializados em orientação de carreira. O mais provável é que o tema só se torne relevante mesmo quando você chegar perto dos 50 anos. Mas, fica aqui a provocação e espero que os argumentos acima ajudem você pensar e, quem sabe, o levem a definir de antemão o legado que pretende deixar.
Meu desejo é que você comece a usufruir dos benefícios de construir uma carreira consciente do seu legado e que possa compartilhar isso com as pessoas que ao seu redor. Boa sorte!
Crédito foto da capa – Pai com filho (Foto: Cecilie Arcurs / iStock)
